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16 de Junho de 2000
Jo�o Paulo II Almo�a com Duzentos Pobres
Gesto simb�lico de Wojtila no Vaticano em tempo de Jubileu
Sem-abrigo, ciganos, mu�ulmanos, gente abandonada pela vida almo�ou ontem no Vaticano. Um gesto simb�lico em tempo de jubilar oferecido pelo Sumo Pont�fice a cerca de duzentos marginais que deambulam pelas ruas da cidade de Roma. "Est�o no meu cora��o", disse-lhes Jo�o Paulo II. Antonio Buoniconti conteve-se, maravilhado: "O mais bonito � ver o Papa de perto".
Num cen�rio ins�lito, anormal para aquela multid�o de comensais, a ala Paulo VI no Vaticano foi ontem arrumada de modo a n�o excluir ningu�m e a causar boa impress�o. Vinte e tr�s mesas redondas decoradas com aprumo, com an�monas brancas e amarelas - as cores oficiais da Santa S� -, toalhas de linho, c�lices da �gua, vinho e espumante - e m�sica, que homenageava as diversas cren�as e origens dos convidados.
Antes tinham rezado, cada um ao seu Deus, e passado pela Porta Santa at� chegarem � sala gigante. Trinta "Legion�rios de Cristo" tocavam enquanto outros dez cantavam "O sole mio", "La bamba", "Funiculi funicula", "Granada" ou "Jambo, Jambo". Um ambiente que suavizou as hist�rias de dor que cada um dos comensais carregava consigo.
Buoniconti, o napolitano maravilhado por ver o Papa ali t�o perto, perdeu os pais, a mulher, o trabalho e agora vive debaixo das arcadas na pra�a Imperador Augusto no centro de Roma. Sandro, de setenta anos, desde que foi despejado que n�o se consegue endireitar. "N�o tenho fam�lia que me possa ajudar. E com o dinheiro da reforma n�o posso pagar as rendas que por a� andam. Por isso fico no dormit�rio social ou por onde calha". Jos�, cinquenta anos, trabalhava na bilheteira do circo Togni, mas durante uma tourn�e no Iraque rebentou a guerra e o circo foi obrigado a voltar para It�lia. Chegado a Roma tamb�m perdeu o emprego e antes de desaguar na Comunidade de Santo Eg�dio, organizadora deste encontro, dormia habitualmente nas esta��es ferrovi�rias. No grupo, h� outro Jos�, de nome falso que, antes de cair nas ruas, era vendedor ambulante. Mas tamb�m para ele as coisas n�o andaram direitas. E Jos� ainda agora dorme os seus sonos nos autocarros nocturnos. Maria � um caso banal. Foi despejada e com uma reforma de mis�ria n�o consegue encontrar casa. Fica no dormit�rio. A hist�ria de Ant�nio � a mais triste. A m�e adoeceu e ele, com 57 anos, deixou o emprego como cont�nuo na Universidade para cuidar dela. Mas a senhora acabou por morrer e Ant�nio foi obrigado a abandonar a casa onde habitavam. Agora sobrevive como pode, no centro hist�rico, envolto em caixas de cart�o.
Foi a todo este ex�rcito de vidas clandestinas que o Papa deixou ontem uma mensagem de esperan�a. Dirigiu-se individualmente a cada um dos comensais para lhes assegurar que todos os dias segue atento a situa��o dos miser�veis do mundo. "Enquanto vos olho, um a um, penso em todos aqueles que em Roma como em qualquer parte do mundo atravessam momentos de dificuldade e prova��o. Queria aproximar-me de cada um de v�s para vos dizer que n�o se sintam s�s porque Deus vos ama. O Papa quer-vos bem e toda a Igreja vos abre os bra�os de acolhimento", acrescentou o Sumo Pont�fice.
Tal como chegaram, partiram. O autocarro da Comunidade de Santo Eg�dio devolveu-os aos abrigos nocturnos, �s esta��es ferrovi�rias, aos dormit�rios e �s caixas de cart�o. Espalhou-os por Roma, pelos mesmos s�tios onde antes tinham subido.
Carlos Picassinos,
na Cidade do Vaticano