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24 de Setembro de 2000
XIII encontro da Comunidade de Santo Eg�dio come�a hoje em Lisboa
Pol�ticos e Religiosos pela Paz
Um total de 300 personalidades de 50 pa�ses. Pol�ticos e religiosos, crentes e n�o-crentes. A Comunidade de Santo Eg�dio e o Patriarcado de Lisboa organizam a partir de hoje, em Lisboa, um encontro internacional na linha do "esp�rito de Assis". Uma iniciativa in�dita em Portugal, um passo mais, esperam os promotores, para ajudar a construir uma cultura de paz. Por exemplo, em situa��es como o M�dio Oriente ou a �frica.
Uma missa especial marcar� esta manh� o in�cio do XIII Encontro Internacional Homens e Religi�es, promovido pela Comunidade de Santo Eg�dio (que mediou o processo de paz de Santo Eg�dio) e o Patriarcado de Lisboa. No Mosteiro dos Jer�nimos, a partir das 11h00 (e com transmiss�o na TVI), D. Jos� Policarpo preside a uma liturgia que ter� a participa��o de l�deres religiosos de outras confiss�es crist�s - cat�licos de rito oriental, ortodoxos e protestantes.
O acto ter� essencialmente um car�cter simb�lico, antes da abertura formal do encontro, �s 17h00, no Centro Cultural de Bel�m. A iniciativa re�ne 300 personalidades pol�ticas e religiosas de 50 pa�ses diferentes, naquele que � o encontro mais importante do g�nero alguma vez realizado em Portugal: � a primeira vez que, num pa�s de incipiente di�logo entre diferentes igrejas crist�s, se juntam tantos l�deres religiosos e pol�ticos para debater o papel das religi�es na "edifica��o de uma cultura de paz", de acordo com a express�o do patriarca de Lisboa, D. Jos� Policarpo.
Entre os participantes na missa, poder�o estar bispos que representam duas igrejas envolvidas em conflitos: o cat�lico ucraniano Lubomyr Husar, e o ortodoxo do Patriarcado de Moscovo, Innokentij Vasil'ev. Depois da queda do regime comunista da antiga URSS, os cat�licos uniatas (de rito bizantino, mas unidos ao Papa) da Ucr�nia t�m reivindicado a devolu��o dos bens de que foram espoliados por Estaline. Mas esses bens, a maior parte deles na posse da Igreja Ortodoxa, est�o a ser usados e os ortodoxos recusam-se, na maior parte dos casos, a devolv�-los. Al�m disso, o Patriarcado ortodoxo acusa o Vaticano de andar a fazer proselitismo na R�ssia, o que faz aumentar as tens�es entre as duas comunidades.
N�o � s� a n�vel religioso, no entanto, que o encontro juntar� respons�veis de entidades em conflito, procurando criar pontes que ajudem a resolver situa��es de viol�ncia ou de tens�o. Tamb�m no �mbito pol�tico, o M�dio Oriente e a �frica ser�o dois dos campos onde isso acontecer�. No primeiro caso, o tema "Religi�es, conviv�ncia e paz no M�dio Oriente" ser� discutido por um jordano, um rabino-chefe israelita, um metropolita crist�o ortodoxo da S�ria e um jornalista italiano especialista em quest�es israelo-�rabes.
No caso da �frica, v�rios presidentes da �frica Ocidental (Guin�-Bissau, Benin, G�mbia, Senegal) tinham confirmado a sua participa��o mas, em cima da hora, houve v�rias desist�ncias. Sobram, para debater "O renascimento da �frica", o Presidente cabo-verdiano Mascarenhas Monteiro e o ex-Presidente nigeriano Amadou Tour�, com o ministro portugu�s Jaime Gama, um bispo cat�lico nigeriano e Matteo Zuppi, da Comunidade de Santo Eg�dio (CSE).
Resolver problemas
O di�logo inter-religioso, o aprofundamento da cultura humanit�ria como cultura dos direitos humanos e o di�logo entre crentes e laicos s�o tr�s dos objectivos principais deste encontro, de acordo com o presidente da CSE, o historiador Andrea Riccardi. Ontem, em Lisboa, numa confer�ncia de imprensa de apresenta��o do encontro, Riccardi sublinhou a import�ncia deste encontro se desenrolar em Lisboa, um lugar onde a cultura europeia se cruza com os olhares de fora da Europa e do Sul do mundo, com uma "aten��o particular para a �frica".Tamb�m a promo��o de uma nova cultura do di�logo no quadro da globaliza��o � uma refer�ncia desta iniciativa, subordinada ao tema gen�rico "Oceanos de paz - Religi�es e Culturas em Di�logo".
Os promotores do encontro relativizam a import�ncia da iniciativa para a resolu��o dos conflitos - ainda para mais, num contexto marcado pela recente declara��o do Vaticano que considera como n�o aut�nticas as igrejas protestantes. Mas acreditam que ele pode ajudar a criar um clima de confian�a entre pessoas e institui��es. "Temos a sensa��o que encontros destes n�o resolvem os problemas", disse D. Jos�, mas, por exemplo na "quest�o complicad�ssima do M�dio Oriente, o di�logo inter-religioso acabar� por ter uma influ�ncia decisiva no processo".
M�rio Soares, cuja funda��o d� tamb�m o seu apoio � iniciativa, confessou-se "entusiasmado" com a realiza��o do encontro em lisboa. O ex-Presidente portugu�s j� participou por quatro vezes em encontros anteriores, que pretendem continuar o "esp�rito de Assis", inaugurado pela jornada de Outubro de 1986, em que o Papa Jo�o Paulo II reuniu l�deres de todas as religi�es (incluindo das cren�as tradicionais africanas) naquela cidade, com o objectivo de rezar pela paz.
Riccardi diz que � necess�ria uma "paci�ncia geol�gica" e "longos per�odos de tempo" para mudar mentalidades e para que os processos de di�logo tenham resultados. "J� � muito positivo as pessoas conhecerem-se pessoalmente e discutir juntos". Em 1986, quando este processo come�ou, "era dif�cil reunir na mesma mesa israelitas e palestinianos." Os avan�os que entretanto se registaram n�o se devem apenas ao "processo de paz" que se t�m desenvolvido politicamente.
S� se assume melhor o que cada um acredita, sintetizou o patriarca de Lisboa, compreendendo melhor o que os outros acreditam
Ant�nio Marujo