|
25 de setembro 2000
Toler�ncia e respeito pela vida
Na sess�o de abertura deste encontro, todos estiveram de acordo quanto � necessidade de acabar com a intoler�ncia e defender os direitos humanos, incluindo o fim da pena de morte
Apelos � toler�ncia, ao di�logo e ao respeito pelos direitos humanos, em particulr os da vida e da liberdade, marcaram a sess�o de abertura do encontro "Oceanos de Paz", que ontem � tarde decorreu no Centro Cultural de Bel�m, com o Grande Audit�rio sobrelotado (incluindo assist�ncia de p�), muitas palmas e m�sica de circunst�ncia. No palco, entre os oradores, viam-se cat�licos, um mu�ulmano, um ortodoxo arm�nio, um judeu e tamb�m laicos: imagem caracter�stica do esp�rito desejado para este encontro da diversidade.
Maria Barroso, que dirigiu os trabalhos desta sess�o de abertura, enquanto presidente da Cruz Vermelha, lembrou que "a paz e a guerra t�m as suas ra�zes na consci�ncia dos homens", pelo que se torna necess�rio "gerar uma nova mentalidade e uma nova pedagogia", num "clima de respeito concretizado em ac��es que modifiquem as estruturas que favorecem as guerras". E "ter a aud�cia de romper com tudo o que justifique a viol�ncia", que "n�o � um direito mas um crime contra a humanidade". Atrav�s de encontros como este, afirmou, podemos fazer da paz "um imenso oceano submergindo definitivamente toda a viol�ncia" e transmitir esperan�a �s crian�as e ao futuro.Por seu turno, Jorge Sampaio, a quem coube dar as boas-vindas, real�ou o nosso orgulho por Lisboa ser "o local escolhido para esta manifesta��o ecum�nica", assim como o apre�o e admira��o devidos � Comunidade de Santo Eg�dio pelo seu labor incans�vel a favor da paz e do di�logo inter-religioso. "A realiza��o destes encontros �, em si mesmo, um sinal dos tempos. Sinal de que a f� religiosa, que em tantos momentos da Hist�ria foi o factor de divis�es, conflitos e incompreens�es, que tantas vezes se confundiu, e confunde, com o fanatismo e a intoler�ncia, pode representar, hoje e cada vez mais, um elo de aproxima��o entre os crentes, uma fonte de di�logo, um lugar de abertura e compaix�o", sublinhou o Presidente da Rep�blica. E prosseguiu salientando que, perante a globaliza��o, somos obrigados a definir "um padr�o comum de valores universais", cujo ponto de partida � a "convic��o profunda da igualdade de direitos entre todos os seres humanos e da necess�ria toler�ncia entre as diversas f�s e entre crentes e n�o crentes, toler�ncia para aceitar a infinita diversidade com que se manifesta a essencial unidade do ser humano". "A toler�ncia e o respeito m�tuo criam as condi��es para um di�logo proveitoso entre os povos, culturas e religi�es. Mas a toler�ncia n�o dispensa a firmeza de princ�pios", em primeiro lugar o respeito pelos direitos humanos, dos quais o mais elementar � o direito � vida. "� essa convica��o profunda que nos move a defender a aboli��o universal da pena de morte. Associamo-nos por isso ao apelo lan�ado pela Comunidade de Santo Eg�dio para uma morat�ria global nas execu��es neste ano 2000." Sampaio afirmou ainda que "n�o pode haver mais contradi��o entre religi�o e liberdade - a f� religiosa ou a sua aus�ncia pertencem ao dom�nio dos direitos individuais, competindo ao Estado garantir a sua livre express�o". E que "n�o podemos aceitar, de bra�os ca�dos, a mis�ria, a fome, a doen�a que grassam em largas zonas do mundo". "A globaliza��o deve ser factor de desenvolvimento para todos e n�o apenas para alguns." Quanto � busca da paz, em que "os valores da democracia s�o o melhor contributo" que lhe poderemos dar, Sampaio formulou um voto para que termine a guerra em Angola e no Congo, e fez um apelo �s partes envolvidas no conflito do M�dio Oriente para que "n�o deixem escapar esta oportunidade para negociar uma solu��o aceit�vel para todos". Referiu-se tamb�m a Timor-Leste, dizendo que "continuamos a acreditar que, com a ajuda da comunidade internacional, o Comselho Nacional da Resist�ncia Timorense, com o apoio da her�ica Igreja timorense, conseguir� encontrar uma via pac�fica para a independ�ncia".
O patriarca de Lisboa, para quem "n�o � por acaso que a mensagem doutrinal das principais religi�es do mundo encerra um desafio de paz: paz interior, paz dos homens entre si", "Deus traz ao homem uma nova qualidade, enquanto protagonista da Hist�ria. Deus purifica e fortalece o cora��o humano, tornando-o mais capaz de construir a paz. Todas as formas de ate�smo geram vis�es redutoras da Hist�ria". Mas a "vis�o nobre da paz" "n�o pode ser apenas a aus�ncia de guerra nem o equil�brio do medo e a concilia��o dos interesses. Ela � obra de justi�a". "N�o se pode ser sinceramente religioso sem ser um construtor da paz". E "� preciso p�r fim a toda a forma de intoler�ncia violenta com motiva��o religiosa". No entanto, existem sinais de esperan�a: os di�logos ecum�nico e inter-religioso, o avan�o dos sistemas democr�ticos (mas "uma democracia que desconhe�a ou agrida as religi�es nega-se como democracia"), a consolida��o progressiva de uma cultura de paz e o nascimento de uma aut�ntica "op��o pelos pobres". O patriarca sublinhou ainda que � preciso "afinar pol�ticas globais, s� poss�veis atrav�s do refor�o da efic�cia e da autoridade moral das organiza��es internacionais que representam a humanidade como um todo".
Andrea Riccardi, em nome da Comunidade de Santo Eg�dio, evocou passos de uma hist�ria de "demandadores do di�logo entre mundos religiosos e culturais", como o encontro de Assis, em 1986. "Na nossa peregrina��o amadureceu uma sabedoria comum: buscar o que une." "N�o � uma frente das religi�es contra um mundo secularizado. � uma cultura que se confrontou com o humanismo laico, parte importante da tradi��o europeia."
Ant�nio Carvalho