Comunità di S.Egidio


 

08/07/2001


Cat�licos Demarcam-se da Viol�ncia Antiglobaliza��o
Bispos da Lig�ria prop�em um sobressalto moral � volta das quest�es da cimeira do G-8, em G�nova

 

"Sem mal entendidos, nem instrumentaliza��es", mais de 60 organiza��es cat�licas italianas encontram-se, neste fim-de-semana, em G�nova para discutir o teor de um manifesto sobre globaliza��o a enviar aos dirigentes do G8 (os sete pa�ses mais industrializados e R�ssia) que dentro de duas semanas se re�nem nesta cidade italiana. Uma forma de demarca��o das cenas de viol�ncia que se prev�em para G�nova protagonizadas pelos movimentos radicais do chamado "povo de Seattle", que j� anunciaram pretender bloquear a cimeira do G8.

O "povo cat�lico", sem querer contrapor-se � ac��o do F�rum Social de G�nova" - organismo coordenador da contesta��o do G8 -, antecipou a contra cimeira para este fim-de-semana, atrav�s desta iniciativa, organizada sob os ausp�cios da Confer�ncia Episcopal Italiana (Cei), cuja comiss�o organizadora conta com movimentos de prest�gio no mundo cat�lico como a Comunidade de Santo Eg�dio, a Ac��o Cat�lica Italiana, ou a Federa��o das Organiza��es de Voluntariado Internacional.

Apesar da demarca��o dos cat�licos, Riccardo Moro, respons�vel do comit� da Cei para o perd�o da d�vida aos pa�ses do terceiro mundo, esclarece que a iniciativa n�o pretende ensombrar a semana de contesta��o estruturada pelo ESG, mas, pelo contr�rio, a inten��o � "clarificar a refor�ar" a contesta��o de G�nova atrav�s de "mecanismos propositivos mas n�o violentos". De resto, a t�tulo, individual, v�rios dos participantes em G�nova neste fim-de-semana est�o mobilizados para as iniciativas do FSG.

Em declara��es ao P�BLICO, Ernesto Diaco, respons�vel da Ac��o Cat�lica Italiana, admite que esta reuni�o � uma tentativa de escapar ao "estilo violento do protesto". "Em vez de partir montras, o protesto pretende concretizar-se em propostas, constantes no manifesto, como a redu��o da d�vida, o fim dos para�sos fiscais ou a taxa��o dos fluxos de capital. � uma proposta que pode ser partilhada, mas n�o com aqueles que decidam criar dist�rbios."

A jornada de trabalho que come�ou ontem e que hoje se conclui conta com a presen�a do cardeal arcebispo de G�nova, Dioniggi Tettamanzi, um dos nomes que integra a lista de candidatos � sucess�o de Jo�o Paulo II. A presen�a de uma figura de peso da hierarquia da Igreja Cat�lica neste encontro intitulado "Olhar o G8 nos olhos" surge na sequ�ncia da Carta pastoral publicada h� dias pela confer�ncia episcopal da regi�o italiana da Lig�ria, � qual pertence a cidade de G�nova.

Escutar os "sem direitos"
"Como bispos sentimos a urg�ncia de despertar em todos um sobressalto de nova moralidade perante os graves problemas ligados a uma globaliza��o n�o respeitadora dos direitos humanos de todos", afirma a Carta. No documento, os bispos ligures fazem votos para a Cimeira de G�nova possa suscitar "um forte sentido de responsabilidade", pois, "os problemas que se referem � globaliza��o s�o decisivos para o futuro da humanidade". E pedem ainda aos "Oito grandes", para "que saibam escutar o grito dos pobres do mundo, pisados nos seus direitos fundamentais, desprovidos de meios econ�micos fundamentais de subsist�ncia, e que [por outro lado] procurem modalidades capazes de regulamentar uma globaliza��o dominada por uma economia alheia a toda e qualquer refer�ncia �tica".

No fundo, o episcopado ligure denuncia esta "globaliza��o profundamente amb�gua" pelo facto de que, "ao mesmo tempo que aproxima e une entre si os povos, gera e alimenta marginaliza��es intoler�veis". "A globaliza��o precisa de ser governada pelo homem, para estar ao servi�o do homem", preconizam os bispos.

Os prelados n�o deixaram de se pronunciar ainda sobre a natureza da contesta��o: "A raz�o e a experi�ncia indicam a esterilidade de contesta��es acompanhadas por actos de viol�ncia; por outro lado, a press�o sobre os grandes da Terra carece de credibilidade quando n�o � acompanhada de um empenho respons�vel de cada um." A Carta pastoral lan�a, por fim, um apelo ao aprofundamento dos conte�dos da doutrina social da Igreja.

O documento corrobora a opini�o, sobre a globaliza��o, de Gino Barsella, director da revista "Nigrizia", dirigida pelos mission�rios combonianos, que, em meados dos anos 90, se evidenciou por ter publicado um relat�rio choque sobre neg�cios e tr�fico de armas envolvendo algumas figuras do governo italiano.

Ao P�BLICO, Gino Barsella admite que as comunidades crist�s est�o mobilizadas e em sintonia com as c�pulas da Igreja Cat�lica que evidenciam um sinal de desconforto perante este "sistema em que � o mercado livre que decide sobre tudo e sobre todos, em que cada vez mais aumenta o fosso entre ricos e pobres".

"� precisa uma ordem mundial atenta �s exig�ncias e �s necessidades dos pa�ses do Sul", sustenta. E acrescenta: "A Igreja quer uma mudan�a no sentido proposto pelo secret�rio geral das Na��es Unidas: mais democraticidade e maior participa��o" das organiza��es n�o governamentais e dos povos nas grandes decis�es globais.

Carlos Picassinos