O presidente da Comunidade de Santo Eg�dio, Andrea Riccardi, prop�s ontem a defini��o de uma data comum a cat�licos, ortodoxos, protestantes e outras confiss�es crist�s para celebrar a mem�ria dos novos m�rtires. A ideia foi proposta ontem, no final do 17� encontro internacional pela paz, este ano dedicado ao tema "Entre guerra e paz, religi�es e culturas encontram-se", que decorreu na cidade de Aix-la-Chapelle/Aachen, no Oeste da Alemanha.
O pr�prio Riccardi � autor de uma investiga��o ("O S�culo do Mart�rio", ed. port. Quetzal), feita a partir dos arquivos do Vaticano, na qual calcula em tr�s milh�es de mortos crist�os (na R�ssia e Uni�o Sovi�tica ter�o sido meio milh�o, a maior parte dos quais ortodoxos).
Riccardi referiu-se tamb�m � import�ncia do di�logo inter-religioso, mas tamb�m na pol�tica. Falando concretamente do que se viveu no encontro, Riccardi afirmou: "N�o � o para�so na Terra. Vejo at� demasiados infernos neste mundo. O di�logo n�o significa ignorar os problemas, mas falar com franqueza, com a vontade de os superar." E, referindo-se a quest�es actuais da actualidade internacional, acrescentou: "N�o podemos falar de �frica ou do conflito na Palestina sem experimentar emo��o e mesmo uma ponta de desespero."
O Iraque deu ao encontro outro momento importante: l�deres crist�os caldeus, mu�ulmanos sunitas e xiitas estiveram juntos em Aix-la-Chapelle. O bispo caldeu de Bagdad, Shlemon Warduni, referiu-se ao caos que ainda domina no pa�s. "H� vinte anos que conhecemos a guerra. Estamos cansados. Estamos sem governo e sem lei. Falta a luz, os medicamentos e a �gua. E depois da fase da rapina, come�ou a fase do terrorismo." O di�logo inter-religioso � uma das poucas sa�das neste panorama, considerou o respons�vel, que pela primeira vez se encontrou com l�deres mu�ulmanos xiitas e sunitas.
Sayed Aiad Jamal Aldin, l�der xiita iraquiano, afirmou que "a ditadura de Saddam foi pior que a guerra", o que o levou a agradecer aos Estados Unidos ter posto fim � ditadura e comprometendo-se no esfor�o de criar um governo democr�tico e laico. Ahmed M. Mohammed, mu�ulmano sunita, tamb�m afirmou a import�ncia do di�logo entre as religi�es. "A conviv�ncia pac�fica entre as tr�s religi�es [monote�stas] � uma necessidade imediata para o Iraque. Encontros como este, promovidos pelos irm�os crist�os, servem para conhecer o outro na verdade."
Um outro factor de aproxima��o foi a presen�a do metropolita Kyril, do patriarcado ortodoxo de Moscovo, com quem o Vaticano tem andado de candeias �s avessas. Santo Eg�dio tem mantido, mesmo assim, contactos com os ortodoxos russos. Riccardi sublinhou que "a Igreja russa � uma Igreja de m�rtires e o seu primado � reconhecido". E o cardeal cat�lico alem�o Walter Kasper acrescentou que a rela��o com Moscovo � uma necessidade para o catolicismo.
Organizado pela comunidade cat�lica de Santo Eg�dio, criada em Roma em 1968, este encontro continua o esp�rito das jornadas de ora��o pela paz promovidas pelo Papa e conta com a participa��o de l�deres religiosos de muitos credos e de pensadores laicos, entre os quais M�rio Soares, convidado desde h� v�rios anos.
Ant�nio Marujo
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