Comunità di S.Egidio


 

08/03/2006


Meus vizinhos pensavam que eu fosse um fantasma�

 

Chamo-me Ana Maria Muhai. Sou mo�ambicana e tenho 44 anos. Sou uma m�e de oito filhos. E sou uma mulher seropositiva.

O meu historial de doente come�ou em 1998: de repente fiquei cheia de ferida, em todo o meu corpo. Comecei a perder peso: estava t�o magrinha que a pele servia para tapar os ossos. Aos 41 anos, pesava apenas 29 quilos, n�o tinha for�a para fazer nada e estava sem esperan�a de viver.

Tive tantas consultas, corri os hospitais todos de Maputo, a minha grande cidade. Os resultados eram esquisitos porque n�o acusavam nada de importante, mas o meu corpo continuava a desaparecer.

Finalmente, uma m�dica do centro de sa�de Dlhavele mandou-me para o centro DREAM, da Comunidade de Sant'Egidio, na Machava, mesmo perto da minha casa.

N�o sei se foi a for�a do desespero, a teimosia da minha m�e que n�o se acostumava com a ideia de me perder, fui l�, no m�s de Fevereiro de 2002. Fui muito bem recebida pelos m�dicos e pelos operadores. Aceitei fazer mais um teste de HIV.

Foi num instante que soube do meu estado: era seropositiva. In�til dizer que chorei todas as l�grimas que tinha nos meus olhos. Estava mesmo desesperada. O que sabia da SIDA era que n�o havia nada para fazer, era uma senten�a de morte. Quem ficaria a tomar conta das minhas crian�as? Porque tinha de acontecer mesmo comigo?

Comecei logo o tratamento. Tomava uma quantidade enorme de comprimidos, de anti-retrovirais, por dia. Tive montes de problemas, mas aguentei, sem perder a esperan�a que isso poderia vir a ser a minha salva��o.

Pedia a Deus que n�o me deixasse, tinha filhos para cuidar. At� o meu marido me tinha abandonado com a morte a bater � porta de casa.

N�o sei como fiquei infectada. Nunca 'brinquei' fora do meu casamento. Nem quero saber porque n�o adianta nada a este ponto.

Em tr�s meses comecei a recuperar e j� conseguia andar sozinha. At� ia ao centro com as minhas pr�prias pernas por espanto dos vizinhos que pensavam eu fosse um fantasma!

Para eles, eu era 'a minha irm�'. Um dia, uma vizinha apalpou-me o traseiro para ver de verdade se n�o era um fantasma. Se era eu mesmo.

Sabem, quando fiquei doente e sem for�a, j� ningu�m comprava na banquinha de verduras e bebidas que tinha montado perto de casa. Todos me apontavam com o dedo e n�o compravam os meus produtos por medo de se infectarem.

Os meus filhos, e isto me do�a mesmo muito, n�o podiam assistir televis�o em casa de ningu�m, porque tinham uma m�e seropositiva. A discrimina��o que os meus filhos sofreram foi a minha dor maior.

At� n�o me importava que os vizinhos viessem a minha casa a tocar batuque e cantar can��es de Sida. Se fosse s� por mim, n�o me importava. Mas os meus filhos... sofreram tanto.

Considero-me afortunada por ter um m�e como a minha. Ajudou-me e continua a ajudar-me muito. Somos muito pobres, mas a ajuda entre n�s � a nossa �ncora de salva��o.

Hoje, j� l� v�o quatro anos que tomo antiretrovirais, estou bem. Trabalho como activista para o projecto: o meu papel � dar assist�ncia moral, dar for�a, �s pessoas que v�m, todos os dias no centro. Conto a minha hist�ria, eles podem ver com os seus olhos, que estou bem, que tenho for�a, que posso trabalhar. E mostro a fotografia de quando pesava 29 quilos. Explico-lhes a import�ncia de cumprir com todos os conselhos que os m�dicos d�o, de levar uma vida saud�vel.

Digo-lhes que se pode ter uma nova vida mesmo vivendo com HIV/SIDA. Fa�o presta��o de cuidados nas casas dos doentes mais graves. E dou palestras nas escolas, falo na televis�o, e digo aos jovens que namorar n�o � s� fazer sexo: namorar � dar um passeio, ir ao cinema, estudar juntos.

E quando sentem que a rela��o � mesmo importante e decidem de fazer sexo, nunca esquecer de usar a camisinha. Porque a SIDA � uma doen�a para toda a vida.

E os meus vizinhos agora v�m a minha casa, pedem-me conselhos e at� me pedem sal.....

Ana Maria Muhai