Comunità di S.Egidio


 

05/10/2007


Matteo Zuppi e o Acordo Geral de Paz
Savimbi tentou o modelo mo�ambicano
Simples, generoso e directo, Mateo Zuppi, uma das traves mestras da Comunidade de Sant�Eg�deo em Trastevere, no centro de Roma, fala uma vez mais para o SAVANA, como se o Acordo Geral de Paz(AGP) tivesse acontecido ontem. Aqui deixamos as suas respostas editadas e com os complementos que a poeira do tempo permitiu estabelecer. Como o Ruanda, o Burundi e a Angola Savimbi e Jos� Eduardo dos Santos.

 

Se tivessem de come�ar de novo fariam da mesma maneira?

Sobre as conversa��es penso que far�amos o mesmo, talvez tent�ssemos ganhar um pouco de tempo, mas pensamos tamb�m que foi necess�rio perder um pouco de tempo para chegar a um acordo maduro, porque isso n�o � qu�mico.

H� talvez alguns aspectos do acordo que deveriam ter sido abordados com mais cuidado, mas digamos que n�o houve grandes problemas na aplica��o.

Discuti muitas vezes com Aldo Ajello (ainda h� duas semanas estivemos juntos), e ele agora � enviado para o conflito dos Grandes Lagos. Ajello costuma referir-se ao Acordo de Roma como m�todo e tamb�m com algumas solu��es de conflito.

Mas era mesmo necess�rio todo aquele tempo?

� �poca, quase todos est�vamos convencidos que no Natal de 1990 chegava a paz. Quando come��mos em Julho (de 1990) t�nhamos a sensa��o que ter�amos uma solu��o mais ou menos r�pida. Vendo acordos de outras situa��es vejo que levaram muito mais tempo e sem resultados.

Havia uma grande envolvente. Pedimos �s igrejas para nos enviarem cartas para dizerem basta, chega � foram milhares de cartas assinadas e recebidas nas par�quias e que foram trazidas � mesa das conversa��es.

� verdade que Raul Domingos viu uma carta assinada pelo seu pr�prio pai?

� verdade e pode-lhe perguntar como ele ficou � ele que n�o falava com o pai h� imenso tempo para n�o lhe criar dificuldades. Isto para dizer que pression�mos muito � mas de facto precis�mos de mais de dois anos para amadurecer um acordo que desse certo. Tinha de haver tempo para que cada uma das partes se aceitasse.

Dou um exemplo, uma das quest�es que nos levou mais tempo, o pre�mbulo, digamos onde estava contida a l�gica do acordo, qual era a rela��o entre Roma e as institui��es em Mo�ambique, entre Roma e a

Constitui��o em Mo�ambique, que era o problema de fundo. O Governo queria dizer h� um Estado que continua, um Governo que continua, n�o era come�ar do zero.

E a RENAMO dizia n�o n�s estamos a construir um novo Mo�ambique e n�o h� rela��o com o vosso Mo�ambique, com o Partido FRELIMO, dos ladr�es e tudo isso � (era interessante ver o projecto de Constitui��o que a RENAMO apresentou � mesa das negocia��es para entender qual era a l�gica da

RENAMO e dos seus conselheiros). Penso que perdemos quatro ou cinco meses. Depois do acordo sobre os corredores humanit�rios � perdemos muito tempo antes do primeiro protocolo, mas h� raz�es, h� uma l�gica, uma filosofia de fundo. A partir da� foi muito mais f�cil.

A chave das negocia��es

A confian�a foi uma quest�o-chave em todo este processo?

O problema da confian�a era fundamental porque a desconfian�a era total. Em outras situa��es, Congo, Burundi, havia muito mais confian�a. Mas em Roma, rigidamente, n�o havia nenhum encontro informal entre eles. Os �nicos encontros informais eram organizados pela media��o. Provavelmente s� num ou dois encontros eles disseram �muito bem, agora vamos ficar sozinhos�. Porqu� isto? Particularmente do lado da RENAMO n�o queriam de modo algum que o seu discurso pudesse ser interpretado de forma diferente. Mas essa desconfian�a tornou poss�vel no fim produzir garantias e regras claras. Era claro � �somos inimigos� n�o houve esse estilo �o que precisas, o que queres para terminar, qual � o problema? um bolo? vamos dar um bolo�. A filosofia de fundo da RENAMO era passo a passo. �Queremos esclarecer tudo e queremos um acordo que depois seja muito f�cil aplicar�.

A desconfian�a n�o era s� em rela��o ao Governo e � FRELIMO. Era tamb�m em rela��o a toda a comunidade internacional que, francamente, estava atr�s do Governo

O n�vel de demoniza��o da RENAMO foi levado ao extremo � eles n�o eram pessoas �

� preciso n�o esquecer o relat�rio Gersony (Departamento de Estado dos EUA) produzido na d�cada de 80. Era um relat�rio que n�o dava � RENAMO qualquer capacidade pol�tica. Eles eram s� �bandidos armados�. Isto dava-lhes o sentimento que s� poderiam contar com eles pr�prios. Isso dava-lhes o sentimento que o acordo tinha que ser blindado, n�o podiam confiar em ningu�m. Por exemplo, eles queriam que os �capacetes azuis� estivessem presentes a partir do 4 de Outubro. E isso tem l�gica, porque eles argumentavam que se houvesse qualquer incidente no terreno eles seriam acusados de serem os culpados.

�Toda a comunidade internacional vai certamente apoiar o Governo�. E francamente os �capacetes azuis� s� chegaram em Mar�o de 1993 o que demonstra que o acordo foi bem amadurecido.

Lembram-me declara��es do Presidente Chissano que eram de esperar alguns incidentes nos primeiros meses logo a seguir � assinatura do acordo �

N�o era s� o Chissano, era toda a comunidade internacional que se interrogava sobre a capacidade da RENAMO. Devo dizer francamente que Dhlakama mostrou uma estrutura e uma capacidade de parar a guerrilha, ele era aceite e com capacidade de comando sobre os seus homens.

As conquistas do AGP

Estes homens eram bombardeados quando vinham �s negocia��es e depois eram acusados de as atrasar �

H� aqui um problema de fundo. As negocia��es decorriam enquanto a guerra prosseguia. O cessar-fogo foi um �ltimo acto juntamente com a assinatura do acordo. Claro que a delega��o do Governo queria como primeiro ponto nas negocia��es que se estabelecesse um cessar-fogo. Era complicado, mas claro que a RENAMO gostaria de ter o caminho facilitado para chegar a Roma. O Governo respondia �n�o vos podemos abrir a porta para voc�s sa�rem�. H� um prov�rbio que diz que n�o se pode ter a mulher borracha e a pipa cheia de vinho. N�o sei se era verdade, mas � bom n�o esquecer que havia pessoas que n�o queriam conversa��es em Roma.

Houve algum momento em que as conversa��es poderiam ser encaminhadas para outro lado?

N�o. Dhlakama quando falou connosco antes do in�cio das conversa��es disse-nos claramente que queria que fossem em Roma. A RENAMO n�o estava interessada em alimentar especula��es com liga��es a Portugal. Quando viajavam para chegar a Roma utilizavam o Qu�nia.

Quinze anos depois h� motivos para as partes estarem satisfeitas?

Acho que sim. Veja-se os n�meros alcan�ados pela RENAMO e por Dhlakama nas primeiras elei��es. N�meros impressionantes. Acho que a RENAMO foi capaz de operar a transforma��o de guerrilha para um partido pol�tico. A RENAMO hoje administra cidades mo�ambicanas. Claro que h� desafios para todos, como fazer crescer a democracia, fazer crescer institui��es apartid�rias onde todos possam participar.

A sa�da de Raul Domingos foi uma perda para RENAMO?

Penso que sim.

O modelo mo�ambicano, apesar de ser considerado modelo, continua sem r�plica �

Como tal � verdade � mas podemos dizer que noutros processos tem havido muito da experi�ncia mo�ambicana que � aplicada �

Foi tentado em Angola? O Presidente M�rio Soares (de Portugal) tentou envolver a Comunidade de Sant�Eg�deo num processo id�ntico?

N�o foi bem assim. A iniciativa n�o era consistente. Mas antes j� hav�amos sido contactados pela UNITA, logo depois do falhan�o dos Acordos de Bicesse. Fomos contactados pelo Samakuva, pelo Gato.

E n�o avan�ou?

Havia uma l�gica diferente. No fim, pouco antes de morrer, o pr�prio presidente Savimbi nos contactou. Mas do outro lado havia uma percep��o completamente diferente. N�o resultou.

F.L.