Comunidade de

SANT'EGIDIO

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09/06/2002
Discurso de D. Matteo Zuppi
Comunidade de Sant�Egidio
Maputo, 4 de Outubro 2002

Queridas Amigas e Queridos Amigos, 
Caros Mocambicanos,

sinto-me profundamente honrado por representar a Comunidade de Sant�Egidio e o seu iniciador, o Professor Andrea Riccardi, mediador na negocia��o de Roma, neste solene celebra��o do d�cimo anivers�rio da assinatura do Acordo de Paz. A guerra � a m�e de todas as pobrezas. A paz � uma ressurrei��o. A primeira coisa que gostar�amos de fazer � recordar os muitos, muit�ssimos que n�o puderam ver esta paz, todos os que o monstro da guerra matou. Eles pedem-nos, juntamente com Deus cujo nome � o da paz em todas as religi�es: Nunca mais a guerra! Nunca mais um homem que mata outro homem!

O nosso pensamento dirige-se tamb�m a todos os pa�ses que ainda n�o possuem o dom da paz. Aos pa�ses em guerra. Em �frica. No M�dio Oriente. Em todo o lado. Sabemos o que significa a guerra. A paz conquistada deve tornar-nos sens�veis ao seu sofrimento. � o mesmo que j� pass�mos! Pedimos a Deus que conduza os governantes para caminhos de paz. Pedimos que sejam afastadas as amea�as de guerra no mundo. Pedimos que a guerra n�o seja um m�todo para resolver os problemas e que as armas nunca substituem o direito internacional que � a via privilegiada para resolver os conflitos. 

O Acordo de 4 de Outubro � um modelo para o mundo inteiro. Um dos poucos assinados e respeitados. E prestamos homenagem ao Presidente da Rep�blica S.� Ex.� Joaquim Alberto Chissano, e ao Sr. Afonso Dhlakama, Presidente da Renamo, por terem sido fi�is aos compromissos assumidos em Sant�Egidio. Somos orgulhosos do Acordo. O Presidente Mandela, para convencer os Burundeses sobre a possibilidade de p�r termo �s viol�ncias, indicou Mo�ambique como exemplo. 

Porque � que este Acordo funcionou? Foi um caminho longo, paciente, passo a passo, que nada descuidou, nem sequer os pormenores. As delega��es encontraram-se em Sant�Egidio, em Roma, durante mais de dois anos. As partes apressaram-se desde o in�cio a reconhecerem-se part�cipes de �uma mesma fam�lia� encontrando, assim, um alfabeto para escrever as regras da futura conviv�ncia pol�tica. N�o foi f�cil. Foi necess�ria paci�ncia, fantasia, compreens�o profunda das exig�ncias de cada um e, por fim, encontrar as garantias e os mecanismos jur�dicos eficazes e justos. O m�todo de toda a negocia��o foi o que caracteriza a Comunidade de Sant�Egidio: �Procurar aquilo que une e p�r de lado aquilo que divide�. � o m�todo que tornou a nossa Comunidade sapiente em unir muitas pessoas e as energias do bem que existem no cora��o de cada um. Assim actores diferentes contribu�ram para o �nico fim que � a paz. 

Sant�Egidio � composto por homens e mulheres comuns que se p�em gratuitamente ao servi�o dos mais pobres e que procuram a felicidade, n�o sozinhos ou contra os outros, mas juntamente com eles. � o mesmo trabalho desempenhado pelas numerosas Comunidades de Sant�Egidio mo�ambicanas com as crian�as desamparadas, com os velhos da rua ou com os prisioneiros. S�o mo�ambicanos convencidos de que ningu�m � t�o pobre que n�o possa ajudar um pobre. 

Ap�s dez anos devemos perguntar a n�s pr�prios: o que � que fizemos com essa paz? A paz n�o � apenas o sil�ncio das armas. Deve crescer no profundo da nossa vida e na sociedade. N�s tamb�m temos que aprender a procurar aquilo que une, deixando de lado o etnicismo, a viol�ncia, o �dio. Paz � dar dignidade � vida de cada um. Cada homem � um valor, sempre! Temos ainda hoje que tirar espa�o � viol�ncia e introduzir o respeito e a toler�ncia. Continua ainda a haver muita viol�ncia nos cora��es, nas palavras, nas m�os. Demasiada. � um insulto para quem foi v�tima dela. � um insulto a Deus. 

Paz hoje � tamb�m lutar junto contra a SIDA. O programa de preven��o e tratamento que Sant�Egidio come�ou no quadro dos esfor�os do Minist�rio da Sa�de � um sinal forte de que tamb�m esta terr�vel guerra, t�o dif�cil e tr�gica, pode e deve ser vencida na colabora��o e solidariedade.
Hoje a letra do Acordo Geral de Paz concluiu-se, apesar de n�o a devermos esquecer. Talvez algumas das reformas previstas n�o tenham tido a aplica��o desejada. Cada um tem certamente motivos para se lamentar ou para ser desconfiado. Mas isso faz parte da transforma��o gradual de todos os pa�ses e da dial�ctica pol�tica, da constru��o do Estado de direito e da continua busca do bem comum. O Parlamento � o lugar privilegiado de di�logo entre as diversas inst�ncias pol�ticas, o laborat�rio de democracia. Gostar�amos de reafirmar hoje que a cultura do di�logo � decisiva para o futuro do Pa�s. O esp�rito do Acordo n�o acabou. A paz tem que crescer. N�o pode ser apenas conservada! H� ainda muitas coisas que n�o est�o bem. Com certeza. E � preciso indic�-las. Por�m, n�o devemos permitir que o ambiente se polua com desconfian�a e contraposi��o. Deve-se refor�ar a todos os n�veis o m�todo do di�logo e da reconcilia��o. Procuremos sempre, mesmo quando parece que n�o � necess�rio, mas como m�todo, aquilo que une. 

Pensamos que este � o esp�rito necess�rio para que Mo�ambique possa continuar a representar um exemplo para todo o amado continente africano e para o mundo inteiro, o exemplo de que a paz � poss�vel e de que o di�logo � a �nica via para a paz. 

Martin Luther King tinha um sonho: �I have a dream�, disse sonhando que os negros e os brancos pudessem viver juntos. Foi assassinado antes de o ter realizado. N�s tivemos a alegria de ver a realiza��o de um sonho que parecia imposs�vel: o sonho da Paz. Temos agora a responsabilidade de a defender e de a fazer crescer. A Comunidade de Sant�Egidio continuar�, como sempre, a estar ao vosso lado nos novos desafios da paz e na luta a todas �s pobrezas com o sentimento mais lindo: o da amizade, que foi o segredo do Acordo de 4 de Outubro. 

Hoje � o dia em que se recorda S�o Francisco de Assis, homem de paz e de di�logo entre os crentes. Ele pedia aos seus para cumprimentarem todos dizendo: �Paz e Bem�. Sim, Paz e Bem para todas as mo�ambicanas e para todos os mo�ambicanos! Viva a Paz! A paz continua! Hosi Katekisa Mo�ambique!