change language
tu es dans: home - revue de presse newslettercontactslink

Soutenez la Communauté

  
21 Juillet 2014

"A paz é um assunto demasiado importante para ser entregue apenas aos políticos"

“Nós queremos demonstrar que é possível fazer alguma coisa pelo mundo, que a paz é possível”, diz Marco Impagliazzo. A Comunidade de Santo Egídio, de que é presidente, venceu o Prémio Calouste Gulbenkian 2014.

 
version imprimable

Marco Impagliazzo era estudante num liceu de Roma, quando a Comunidade de Santo Egídio, que preside desde 2003, o levou a conhecer os pobres da cidade, sobretudo as crianças da periferia. A entrada na comunidade aos 15 anos levou-o desde cedo a questionar o que podia fazer pelos outros.

Hoje, gostaria de encontrar em todas as pessoas essa mesma entrega que o move e inspira num mundo capaz de recuperar o que diz ser uma ideia desaparecida de interesse comum. “O mundo tornou-se demasiado grande e receio uma grande resignação dos cidadãos que dizem que nada podem fazer”, disse em entrevista ao PÚBLICO dias antes de receber o Prémio Calouste Gulbenkian 2014, numa cerimónia esta segunda-feira em Lisboa, das mãos do ex-Presidente Jorge Sampaio que preside o júri. O prémio, criado em 2012 para reconhecer pessoas ou instituições que se distinguem pela defesa dos valores essenciais da condição humana, foi atribuído nesse ano à West-Eastern Divan Orchestra de Daniel Barenboim (que junta músicos israelitas, palestinianos e de outros países árabes) e, em 2013, à Biblioteca de Alexandria.

A missão da Comunidade de Santo Egídio, enquanto movimento cristão, fundado por um laico, com milhares de voluntários em mais de 70 países do mundo, é promover a paz?
Estamos muito empenhados nessa acção. Os portugueses conhecem-nos bem pela [mediação da] paz em Moçambique, assinada em Roma em 1992. A nossa actividade pela paz prosseguiu depois disso em África, na região dos Grandes Lagos, na Casamansa [região separatista do Senegal], e na região do Sahel. Mas a Comunidade de Santo Egídio também insistiu muito no papel das religiões para se alcançar a paz. Desde a iniciativa do Papa João Paulo II [Dia da Oração] em 1986 que reuniu em Assis, cidade de São Francisco, todas as religiões em nome da paz, abriu-se um espaço novo no mundo, encontrou-se um papel das religiões para a paz. As religiões são muito confrontadas com o problema da guerra. Muitas ideologias exploram as religiões para o apoio à violência, mas sabemos que na génese de cada religião está a paz.

Inclui Moçambique no conjunto de momentos mais marcantes da vida da comunidade?
Moçambique foi a grande expressão da força de paz que uma comunidade cristã pode ter. Para nós, foi uma surpresa. Não éramos diplomatas de profissão. Colocamos a questão humana sempre em primeiro lugar e, em Moçambique, utilizámos essa força, que não é política nem económica. A paz é um assunto demasiado importante para ser entregue apenas aos diplomatas ou aos políticos. Moçambique abriu-nos um grande caminho. Desde então, a Comunidade foi muitas vezes chamada para mediações de paz: Guiné-Conacri, Costa do Marfim, Níger. Não actuamos apenas como mediadores, temos também um papel de apoio à sociedade civil, de regresso à democracia. Muitas pessoas confiam em nós em África. E isso leva-nos a sermos ainda mais responsáveis pela paz.

Por isso, a Comunidade de Santo Egídio foi apelidada de ‘pequena ONU de Trastevere’ [o bairro antigo de Roma onde está situada]?
É uma amável definição do grande jornalista italiano, já falecido, Igor Man, que quis conjugar num só nome a ideia do discurso diplomático da ONU e essa raiz romana, muito familiar, do antigo bairro de Roma.

Em 1968, quando a comunidade foi fundada, o mundo era muito diferente daquilo que é hoje. A comunidade também mudou para acompanhar essa evolução?
Muito mudou no sentido em que o mundo agora já não está dividido em dois. O problema de fazer a paz no mundo globalizado é também este: o cidadão fica ultrapassado, e sem saber como agir, pela quantidade de informação de que dispõe. Interroga-se: ‘o que posso eu fazer pela Síria ou pela Ucrânia?’ A resposta é sempre uma resposta resignada. Há demasiadas mensagens que nos fazem ver o mundo como um mundo demasiado complicado. Perante isto, existe a tentação de [as pessoas] se distanciarem, se fecharem sobre si mesmas. Para nós, hoje, fazer a paz é ter interesse pelas coisas. O mundo tornou-se demasiado grande e temo a grande resignação dos cidadãos que dizem que nada podem fazer. Nós queremos demonstrar – e agradeço muito à Fundação Gulbenkian por isso – que é possível fazer alguma coisa, que a paz é possível.

Ao longo dos anos, quais os principais obstáculos encontrados pela Comunidade de Santo Egídio no seu papel de mediador?
Entre os obstáculos, está o facto de, por vezes, haver demasiados mediadores. Não é o nosso caso, mas hoje a paz tornou-se, para muita gente, um assunto económico. É preciso estar atento às reais intenções dos mediadores. A outra dificuldade é a fragmentação. O caso sírio, onde há demasiados grupos, é exemplar. Não há apenas duas partes a aproximar [para a paz]. Existe uma grande fragmentação que se transforma num segundo obstáculo. O terceiro, que já mencionei: o facto de cada pessoa, com a globalização, se fechar sobre si ou o seu grupo, sobre a sua religião. Já não há uma ideia geral dos problemas. Fechamo-nos e combatemo-nos em muitos pequenos grupos. E também vejo como obstáculo essa ideia de resignação de que a paz não é possível. Mas repito: a paz é possível.

Os interesses económicos dominam hoje os conflitos como os interesses da Guerra Fria no passado?
Sim. Antes, fazia-se a guerra por questões ideológicas. Hoje, pode fazer-se a guerra pelo petróleo, pelo cacau, pelo controlo das minas, e existem realmente muitos interesses económicos. Estou a lembrar-me, por exemplo, do caso da Colômbia. Começou como uma guerra ideológica, que se transformou numa guerra pelo controlo da droga. A economia ocupa sempre o primeiro lugar, antes era a política. Por isso, é por vezes mais difícil encontrar uma base concreta para a partilha de um projecto nacional. Queremos sempre lembrar às partes em conflito que há uma região a defender, uma ideia de Estado a defender, não apenas o controlo económico de qualquer riqueza [natural].

Antes havia mais esperança no mundo?
Mais esperança e sobretudo uma ideia do interesse geral, uma ideia do bem comum um pouco mais desenvolvida. É preciso regressar à ideia do bem comum, pois no nosso mundo vê-se sobretudo o interesse pessoal, ou o interesse de um grupo, ou de uma família, ou de uma etnia. É preciso incluir no discurso da paz o humanismo. Penso no humanismo cristão mas também essa ideia, bem conhecida em Portugal, de humanismo, como a defendida pelo ex-Presidente Mário Soares e de que o mundo tanto precisa. É preciso que essa ideia de humanismo – cristão ou socialista – regresse à sociedade.

A comunidade tem como referência São Francisco de Assis, que este Papa quis homenagear escolhendo o nome Francisco. Essa coincidência pode dar frutos?
Somos muitos próximos deste Papa que reuniu os pobres no centro do interesse da Igreja e do mundo inteiro. Ele fala sempre da periferia e nós somos uma comunidade que vive na periferia do mundo, vivemos sobretudo em África, e em países pobres do resto do mundo. Porém sentimos que na realidade não há periferia. O centro de todas as sociedades é o homem. A figura de São Francisco é capital – lembra-nos que os pobres são mestres para nós, porque nos ensinam a realidade do mundo.


 LIRE AUSSI
• NOUVELLES
30 Janvier 2018
BANGUI, RÉPUBLIQUE CENTRAFRICAINE

Chantal, Elodie et les autres : des enfants en soins avec le programme DREAM à Bangui, capitale de la Centrafrique

IT | ES | DE | FR | CA | NL
25 Janvier 2018
ROME, ITALIE

Centrafrique. Le président Touadéra en visite à Sant’Egidio : « Merci pour le soutien au processus de paix : la nouvelle phase de désarmement commence maintenant »

IT | ES | DE | FR | PT | CA | ID
9 Janvier 2018
BANGUI, RÉPUBLIQUE CENTRAFRICAINE

Des aides humanitaires en République centrafricaine tandis que les opérations de désarmement se poursuivent

IT | ES | DE | FR | PT | CA | NL
1 Janvier 2018
ROME, ITALIE

Salutations et encouragements du pape François aux participants à la manifestation "Paix sur toutes les terres"

IT | ES | DE | FR | PT | NL | HU
1 Janvier 2018

Des pas vers la paix en Casamance : le gouvernement sénégalais libère deux prisonniers du MFDC

IT | DE | FR | PT | NL | HU
30 Décembre 2017
ROME, ITALIE

"PAIX SUR TOUTES LES TERRES" : 1er janvier, une marche pour un monde qui sache accueillir et intégrer

IT | ES | DE | FR | CA | NL
toute l'actualité
• PRESSE
27 Février 2018
Vatican Insider

Corridoi umanitari, 114 profughi dall’Etiopia. Galantino: no allo sciacallaggio politico

27 Février 2018
Avvenire

Cei. Atterrati a Roma 113 profughi. «La cooperazione fra istituzioni fa miracoli»

27 Février 2018
Agenzia SIR

Corridoi umanitari: Impagliazzo (Comunità Sant’Egidio), “polemiche politiche finiranno ma il futuro è nell’integrazione”

26 Février 2018
Roma sette

Congo e Sud Sudan, Gnavi: «La liberazione ha il nome di Gesù»

26 Février 2018
Avvenire

Emergenza freddo. Rifugi e parrocchie aperte ai senza dimora

24 Février 2018
Il Sole 24 ore

Emergenza freddo, S. Egidio: non lasciamo soli i senza dimora

toute la revue de presse
• ÉVÉNEMENTS
18 Janvier 2018 | ROME, ITALIE

'Siamo qui, siamo vivi. Il diario inedito di Alfredo Sarano e della famiglia scampati alla Shoah'. Colloquio sul libro

TOUTES LES RÉUNIONS DE PRIÈRE POUR la PAIX
• DOCUMENTS

''Entente de Sant'Egidio'': Accord politique pour la paix en Republique Centrafricaine

Intervention de Marco Impagliazzo au Conseil de Sécurité des Nations Unies sur la situation en République Centrafricaine

tous les documents