A 27 de Fevereiro passado foi assinado na sede da Comunidade de Sant'Egidio em Roma um apelo para o povo centro-africano e a comunidade internacional para a reconciliação nacional e o apoio ao processo de reconstrução política e institucional, assinada pelas principais personalidades do País africano, incluindo quatro ex-primeiros-ministros, a vice-presidente do Parlamento de transição e a presidente da Comissão para o "Fórum Nacional de Bangui". A assinatura do acordo pré-eleitoral, definido por Andrea Riccardi como "um farol de esperança para todos", foi recebido com satisfação também por países vizinhos.
Pedimos a Mauro Garofalo, da Comunidade de Sant'Egidio, que acompanhou todos os passos do processo que levou à assinatura do documento, porque este acordo representa um marco importante para a paz e estabilidade da República Centro-Africana e de toda a região.
Qual é a situação actual na República Centro-Africana?
"A República Centro-Africana há dois anos vive-se numa situação particularmente difícil devido à instabilidade e à violência generalizada. O golpe de Março de 2013 mergulhou o país numa situação grave, e até hoje a comunidade internacional esforça-se para apoiar o País. Sobre uma população que tem um pouco menos de 5 milhões de habitantes, mais de 400 mil deles são refugiados nos países vizinhos, enquanto um milhão de pessoas vivem na condição de IDP (Internal Displaced Person), isto é "deslocados internos".
A transição desejada pela comunidade internacional para transportar a República Centro-Africana para as eleições está para terminar, as eleições presidenciais terão que dar um presidente ao País em Agosto de 2015. Infelizmente, em muitas áreas operam grupos militares (Seleka, anti-Balaka e outros) que impedem o controle do território e causam a violência em curso".
O que acontecerá na República Centro-Africana, com a assinatura do acordo pré-eleitoral?
"O encontro de Sant'Egidio é um passo importante para a reconciliação. A presença entre os delegados dos maiores expoentes dos principais partidos é um evento sem precedentes. Serão, de facto, os partidos que deverão expressar a liderança do País, e a campanha eleitoral já começou. O apelo/declaração de Roma pretende estabelecer entre os partidos que competem um acordo para a realização pacífica e democrática das eleições e lançou a ideia de uma obra comum, mesmo após as eleições, o respeito democrático entre vencedores e vencidos. O documento conjunto quis assumir a forma de um apelo patriótico para o povo centro-africano, pelo qual os políticos presentes (incluindo quatro ex-primeiros-ministros) comprometem-se em colocar de novo a política no centro da vida do País, para que a República Centro-Africana possa renascer na harmonia e na democracia".
Porque este acordo é importante não só para a República Centro-Africana, mas também para toda a região?
"A República Centro-Africana, com a sua instabilidade e a presença de grupos armados transfronteiriços, representa um grande problema para toda a região. A própria presença de dezenas de milhares de refugiados nos países vizinhos constitui uma emergência humanitária de difícil manejo. República Centro-Africana está no cerne de um cenário problemático, a presença de Boko Haram na Nigéria, Chade e Camarões, os confrontos no Sudão do Sul (a que pode ser adicionado a presença no leste do País dos guerrilheiros do LRA, Lord Resistance Army) nos dizem claramente que o regresso à estabilidade será crucial para toda a área, como afirmado repetidamente pelos governos dos países vizinhos e da comunidade internacional.
Por muito tempo, na verdade, a República Centro-Africana foi considerada um refúgio seguro para todos os tipos de guerrilha, e chego a hora em que as instituições fortes e legítimas gradualmente retomem as rédeas do país".
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